A acne adulta

A acne adulta

Este artigo tem uma foto minha pois acaba por ser pessoal.

Eu tenho 41 anos e tenho acne! Na verdade, tive acne na adolescência (por volta dos 17 anos). Não foi um caso difícil, tratei recorrendo a uma consulta de dermatologia (a rotina não estava a ser suficiente ou seja, fiz medicamentos sujeitos a receita médica) e resolvi a questão. Mantive sempre uma rotina adequada desde então, e ia surgindo uma ou outra borbulha, mas nada de grave. Quando parei a pílula para engravidar, notei alterações a nível da oleosidade, o que controlei facilmente. Esta saga de acne adulta começou há cerca de 2 anos. Não vos sei dizer exatamente porquê. Posso dizer que coincidiu com um aumento de trabalho (sim, foi quando o projeto Pele Bem Formada começou a dar muitas cartas 🙂 e também por excesso de stress. Noto um agravamento quando me porto menos bem na alimentação (o pós férias é caótico) e o local preferido aqui é mesmo o queixo! Mas, como vamos ver a seguir, é por vezes difícil perceber exatamente o porquê!

Há cerca de 6 meses fui convidada pela revista Salus Magazine para fazer um artigo, e escolhi esta temática, pois ainda é pouco falada. Achei que fazia sentido trazer o artigo para o meu blog (e atualizá-lo um pouco). Sendo assim, cá vai. Espero que vos ajude!

A acne adulta é um problema que afeta cada vez mais mulheres na idade adulta. A acne adulta é caracterizada pela acne que surge a partir dos 25 anos, e ao contrário da acne na adolescência, afeta mais o sexo feminino. Esta acne pode surgir pela primeira vez na idade adulta (acne tardia), pode iniciar-se na adolescência e continuar durante a idade adulta (acne persistente) ou regressar após um interregno de alguns anos (acne recorrente). A prevalência desta doença tem aumentado nos últimos 30 anos, e embora a fisiopatologia seja semelhante à da acne na adolescência, são atualmente consideradas doenças distintas, com tratamentos diferentes.

As principais diferenças comparativamente com a acne que surge na adolescência são a localização das lesões, que ocorre principalmente no queixo e na zona mandibular (em forma de U), e o tipo de lesões, que são maioritariamente lesões inflamadas (pápulas e pústulas), o que se torna muito desconfortável (lesões dolorosas e muito visíveis).

Os motivos deste aumento de número de casos ainda estão em estudo, mas sabe-se hoje que os fatores hormonais (hormonas androgénicas – mais comum em mulheres que usam pílulas apenas com progestagénios ou DIU) e o sistema imunitário estão envolvidos na patologia. Existem uma série de outras questões que podem condicionar o surgimento desta situação: fatores genéticos, o consumo de tabaco, insónias e noites mal dormidas, stress, obesidade, poluição, fatores alimentares (alimentação rica em hidratos de carbono e em lacticínios, suplementos proteicos, vitamina B12)…

Uma das coisas que considero bastante interessante nesta questão é a forma como a nossa rotina de skincare pode afetar o surgimento de episódios de acne adulta: lavagens excessivas do rosto, com uma barreira cutânea danificada, que contribuem para a perda transepidérmica de água, são apontadas como parte das possíveis causas. Ou seja, rotinas demasiado agressivas e deslipidantes. Por outro lado, a falta de rotinas de higiene e hidratação podem ajudar a despoletar esta patologia. Da mesma forma, o uso de demasiados cosméticos (rotinas demasiado complexas, com o uso sobreposto de diversos cosméticos), parece ter aqui algum impacto.

Frequentemente a abordagem tradicional usada na adolescência pode não funcionar na idade adulta: a acne demora mais tempo a responder a tratamentos (por vezes cerca de 3 meses são necessários para vermos resultados), e a pele tem maior potencial de sensibilização. Além disso, surge numa fase diferente da vida, em que as mulheres estão grávidas, pensam em engravidar ou amamentam, o que limita mais os tratamentos indicados. Cerca de 20% das mulheres com acne adulta ficam com cicatrizes de acne, com possível risco de hiperpigmentação pós-inflamatória.

Sendo assim, na acne adulta devemos sempre recomendar o que designo por tríade do sucesso: limpeza (com um produto adequado, que limpe a pele sem a agredir ou deslipidar em demasia); hidratar (um hidratante não comedogénico, fluído, adequado a peles mistas ou oleosas, com ativos reparadores e hidratantes) e proteger (protetor solar com FPS 50+, de preferência com elevada proteção UVA e luz azul por causa do risco de hiperpigmentações).

A introdução na rotina de um produto com ácido azelaico (15 a 20%) uma vez ao dia pode funcionar muito bem na redução do número de lesões, ajudando ainda nos casos de hiperpigmentação pós-inflamatória. O uso de retinóides cosméticos e de peróxido de benzoilo podem também ser interessantes nestes casos.

Nos casos mais graves, acompanhados de outras alterações (hirsutismo, alopécia androgenética) e onde as alterações na rotina cosmética não são suficientes (preferencialmente recomendadas por um profissional de saúde/estética), recomendo que procurem um dermatologista.

Referências Bibliográficas

Bagatin E, Freitas THP, Rivitti-Machado MC, Machado MCR, Ribeiro BM, Nunes S, Rocha MADD. Adult female acne: a guide to clinical practice. An Bras Dermatol. 2019 Jan-Feb.

Bagatin E, Rocha MADD, Freitas THP, Costa CS. Treatment challenges in adult female acne and future directions. Expert Rev Clin Pharmacol. 2021 Jun; Kutlu Ö, Karadağ AS, Wollina U. Adult acne versus adolescent acne: a narrative review with a focus on epidemiology to treatment. An Bras Dermatol. 2023 Jan-Feb.

Dias da Rocha MA, Saint Aroman M, Mengeaud V, Carballido F, Doat G, Coutinho A, Bagatin E. Unveiling the Nuances of Adult Female Acne: A Comprehensive Exploration of Epidemiology, Treatment Modalities, Dermocosmetics, and the Menopausal Influence. Int J Womens Health. 2024 Apr.

Imagens

Pedro Sousa | Freepick

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