
A Pele Sensível
Como muitos sabem, fiz recentemente uma formação para profissionais sobre Pele Fragilizada com a querida Joana Preto (para quem não conhece, a Joana é enfermeira, dedica-se ao estudo da pele, e tem um projeto, a Pele Comunica). Nesta formação abordamos variados temas, nomeadamente o da Pele Sensível.
Achei então que era uma boa altura para introduzir este tema aqui no Blog, mas também no Instagram. Durante a próxima semana, irei deixar críticas a 5 séruns alegadamente formulados para pele sensível e sensibilizada.
O que é então a pele sensível? É uma pele que fica sempre vermelha? Posso ter pele sensível e não ter nenhuma doença de pele?
O que é uma Pele Sensível?
Esta situação foi definida em 2017, por um grupo de especialistas que se dedica ao estudo da sensibilidade cutânea, como um síndrome caracterizado pela ocorrência de sensações desagradáveis, em resposta a estímulos que normalmente não deviam provocar esse tipo de sensações.
Ou seja, a pele sensível reage, sob a forma de diversos sinais e sintomas desconfortáveis, a substâncias ou factores ambientais que usualmente não deveriam provocar nenhum desconforto cutâneo. Isto de forma crónica e persistente, existindo alturas de melhoria e outras de agravamento dos sintomas.
O que sente uma pele sensível?
Antes de mais, convém referir que um dos grandes desafios neste síndrome, principalmente no diagnóstico do mesmo, é a sua subjetividade: frequentemente não são notórias alterações na pele e esta pode parecer perfeitamente saudável. No entanto, a pessoa sentir bastante desconforto, em especial após o uso de alguns produtos cosméticos.
Os principais sintomas que a pessoa com pele sensível pode ter (atenção, nem todos podem estar presentes) são picadas, sensação de queimadura, dor, prurido, formigueiro e eritema (vermelhidão).
Como sei se tenho pele sensível?
Qualquer pessoa pode ter uma pele sensível. As pessoas mais afetadas são aquelas que têm algumas patologias cutâneas prévias, como dermatite atópica, psoríase, rosácea, dermatite seborreia, entre outras. No entanto, qualquer pessoa pode manifestar sensibilidade tanto no rosto, como noutras regiões corporais (zona genital, couro cabeludo, mãos…). A pele sensível é uma situação crónica, que pode melhorar ou piorar em função da exposição da pele a diversos agentes agressivos/sensibilizantes, ou mesmo por questões ambientais (frio, vento, calor…). Mas no geral, quem tem pele sensível sabe que não consegue usar qualquer cosmético, pois frequentemente reage de forma negativa aos mesmos.
Sabemos também que o stress influencia negativamente a pele sensível, e poderá ter um impacto no surgimento de crises.
No entanto, tendo em conta que é uma situação que pode frequentemente ser confundida com outras, o ideal é procurar um profissional de saúde para validar o diagnóstico.
Que cuidados deve ter uma pele sensível?
No caso de estarmos perante uma crise, deve limitar-se o uso de cosméticos ao estritamente necessário, ou seja, limpar, hidratar e proteger (a “minha” famosa tríade do sucesso). O uso de cosméticos com substâncias calmantes e com ação anti-inflamatória pode ser bastante útil em quadros de exacerbação de sintomas.
Fora estas situações de agravamento, deve sempre procurar usar produtos testados em pele sensível, preferencialmente sem fragrâncias e com baixo teor em conservantes.
Deve-se evitar introduzir vários ativos com potencial irritativo (alfa hidroxiácidos, ácido salicílico, retinóides, vitamina C) em simultâneo, sob pena de agravar ou fazer surgir os sintomas deste síndrome. A introdução gradual de novos produtos isoladamente na rotina já estabelecida é o ideal de modo a podermos detetar o agravamento dos sintomas, e perceber onde está a causa.
Relativamente à lavagem, devemos privilegiar formulações com tensioativos suaves, sem perfume e com uma boa ação hidratante associada.
Quando encontrarem a rotina ideal para a vossa pele, mantenham-na. Isso é fundamental em qualquer pele, particularmente numa pele sensível.
Referências Bibliográficas
Chen L, Zheng J. Does sensitive skin represent a skin condition or manifestations of other disorders? J CosmetDermatol. 2021 Jul
Do LHD, Azizi N, Maibach H. Sensitive Skin Syndrome: An Update. Am J Clin Dermatol. 2020 Jun
Misery L, et al; Special Interest Group on sensitive skin of theInternational Forum for the Study of Itch (ISFI). Pathophysiology and management of sensitive skin: position paper from the special interest group on sensitive skin of the International Forum for the Study of Itch (IFSI). J Eur AcadDermatol Venereol. 2020
Imagens: Chris Jarvis em Unsplash
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